O psicanalista tem
condição de ajudar a entender o que se passa com você a nível inconsciente
através de perguntas, intervenções e interpretações em uma relação muito
especial que se estabelece que é a relação transferencial.
O trabalho
psicanalítico dispõe de duas regras, que são fundamentais para um bom andamento
da análise. Uma é a associação livre do analisante. Isso significa que, quem
traz os conteúdos a serem trabalhados é o analisante. E isso é possível através
da sua fala, dos conteúdos importantes para você. E, por parte do analista é uma
atenção "flutuante" que possibilita o analista não se colocar numa
posição de "interpretação" e sim valorizar o que significa o que você
está falando. Pode o analista falar pouco ou muito, mas o trabalho realizado
vai depender do seu desejo de análise. Desejo de trabalhar o que lhe traz
angústia abrindo possibilidade de retificar e mudar sua posição subjetiva. Quem
irá construir um bom percurso ou um mal percurso de análise será você e seu
desejo.
Há várias vertentes
dentro da psicanálise. Os psicanalistas mais ortodoxos falam muito pouco com o
intuito de não "contaminar" as questões do paciente com as suas. Dito
de outro modo, a psicanálise entende que a sessão não deve ser um encontro
entre duas pessoas (dois mundos internos) mas um espaço em que o mundo interno
do paciente (analisante) apenas possa aparecer, por isso a pessoa do analista
não se revela. O psicanalista tem como tarefa devolver ao sujeito aquilo que
ele diz e que não percebe que diz. Esse trabalho visa ajudar o analisante a
perceber de qual posição ele se enuncia: por exemplo, é uma pessoa insatisfeita
que acha que os outros são os culpados de todas suas mazelas? é alguém que se
sente na obrigação de cuidar dos outros? Particularmente, penso que o silêncio
desde o início do processo pode ser muito angustiante para o paciente, mas isso
não significa que o analista dará conselhos. A responsabilidade das escolhas é
do analisante e o analista deve frisar isso.
Na Psicanálise, ao
contrário do que muitos pensam e alguns divulgam, existe sim acolhimento da dor
do outro e interação e empatia. Mas o Psicanalista não dá sugestões de como
você deve proceder, porque ninguém é o dono da sua verdade, a não ser você,
embora muitas vezes você precise falar para chegar até essa verdade. E ninguém,
além de você, suportará o sofrimento das decisões tomadas de acordo com base
nas sugestões de quem se acha aquele que tudo sabe. A Psicanálise te ajudará a
descobrir quais são os teus desejos e quais são os conflitos que te trazem
sofrimento, possibilitando que você possa se tornar uma pessoa mais livre,
responsável por sua própria vida e por suas decisões e mais preparada para
enfrentar as contingências da vida.
O psicanalista dará
a direção ao tratamento não irá direcionar você. O trabalho pela abordagem
psicanalítica é em direção a uma autonomia e responsabilidade sobre a própria
vida. É fundamental que para isso você se sinta confortável para falar, sinta
confiança no profissional e saiba que ele está ali atento ao material que você
traz, fazendo as intervenções nos momentos que ele achar pertinente, pontuando,
interpretando e te auxiliando na sua trajetória analítica.
Existem formas
diferentes dos psicanalistas trabalharem, mas pode-se afirmar que poucos
trabalham hoje em dia apenas escutando o paciente. A escuta é o principal
instrumento de trabalho, mas não é o único. Frequentemente são necessários
apontamentos, perguntas, esclarecimento, interpretações, entre outras formas de
intervenção, todas no sentido de ajudar a pessoa a pensar aquilo que por algum
motivo ela está se impedindo de pensar a respeito de si e de suas relações.
Contudo, tal trabalho não pode ser entendido como um direcionamento. O
tratamento psicanalítico busca aumentar o seu conhecimento sobre si para que
assim você possa decidir qual direção tomar de maneira mais consciente e
comprometida com o que você realmente é.