domingo, 12 de março de 2023

Psicanálise e Ansiedade

 Sobre psicanálise e Ansiedade:


A ansiedade é um problema que afeta muitas pessoas em todo o mundo. É uma sensação de inquietação, tensão ou medo que pode se manifestar de várias maneiras, desde sintomas físicos como sudorese e palpitações até sintomas psicológicos como pensamentos obsessivos e preocupação constante. Embora a ansiedade seja uma resposta normal ao estresse, ela pode se tornar um problema quando interfere na vida diária de uma pessoa.


A psicanálise é uma abordagem terapêutica que tem sido utilizada para tratar a ansiedade há mais de um século. Ela se baseia na ideia de que a ansiedade é uma expressão de conflitos internos inconscientes e de que a compreensão desses conflitos pode ajudar a pessoa a superar a ansiedade.


Durante a terapia psicanalítica, o terapeuta ajuda o paciente a explorar os conflitos internos que podem estar direcionando para a ansiedade. Isso pode envolver discutir sonhos, lembranças e outras formas de expressão inconsciente. O objetivo da terapia é ajudar o paciente a entender suas emoções e pensamentos de uma forma mais profunda e significativa, de modo que possa superar a ansiedade.


Uma das principais vantagens da psicanálise é que ela é uma abordagem personalizada, adaptada às necessidades e experiências individuais do paciente. O terapeuta trabalha com o paciente em um ambiente seguro e confidencial, permitindo que ele explore livremente seus pensamentos e sentimentos sem medo de julgamento ou crítica.


Além disso, a psicanálise pode ser usada para tratar uma variedade de tipos de ansiedade, incluindo transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do pânico, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de estresse pós-traumático.


Se você está lidando com a ansiedade, considere a psicanálise como uma opção de tratamento eficaz e personalizado. Com o apoio de um terapeuta psicanalítico experiente, você pode explorar seus conflitos internos e superar a ansiedade para viver uma vida mais plena e significativa. Entre em contato com um psicanalista para saber mais sobre como a psicanálise pode ajudá-lo.


Carla Regina Campos

Psicanalista Clínica

(21) 96462-3590

terça-feira, 13 de setembro de 2022

"Decifra-me ou devoro-te"


O meu poema ``Reginae patris``, após um concurso literário, foi selecionado para participar da antologia Poesia Ativa 2022 da Editora Absurtos. E agora, divido este poema, que para mim tem muito significado, e significantes.


“O significante produzindo-se no campo do Outro faz surgir o sujeito de sua significação. Mas ele só funciona como significante reduzindo o sujeito em última instância a não ser mais do que um significante, petrificando-o pelo mesmo movimento com que o chama a funcionar, a falar, como sujeito.” (Seminário 11, p. 197).


Desenvolvi este poema em poucos minutos, mas sua elaboração se deu num processo que levou a metade de uma vida, e que se concluiu após um percurso da minha análise pessoal. Este poema representa a verdade que se descortinou após a revelação de que o ódio  pode na verdade esconder o amor, e que tudo depende não da realidade das coisas, mas das representações e interpretações que damos às coisas. Eu levei a metade de uma vida vivendo conforme a interpretação que fiz dos fatos e das pessoas à minha volta, e também pelas histórias que os outros contavam destes fatos.  Foi preciso passar por um longo e árduo processo de análise para descobrir que “AQUELAS coisas contadas e interpretadas” não eram bem AQUILO que eu havia interpretado e, após muitas elaborações, cortes e intervenções do meu analista, percebi que o ódio na verdade era amor.


Onde duas subjetividades se encontram e entrelaçam, muitas vezes é impossível perceber sem muito esforço, o que é amor ou ódio.

Como disse Lacan “Somos todos seres amódicos: amamos e odiamos com igual intensidade, muitas vezes o mesmo objeto”.

Fazer uma reinterpretação da própria história faz toda a diferença na vida de um sujeito. Fatos não são fatos até que você os comprove como tal, mas quando falamos em sentimentos e subjetividade fica difícil dizer o que de fato algo é. Isso vai depender de como cada um interpreta e experimenta os fatos. 

Michel Foucault, filósofo francês, revela que “ uma verdade única e universal para o sujeito é impossível”.

Foi só quando comecei a circular as idéias, trocar as funções das palavras, encontrar novos sentidos e achar ali outros significantes, que pude reinterpretar os fatos da minha vida, que até então havia entendido de outra maneira. Estava ainda com as idéias e significantes que outras pessoas haviam dado para algo que era tão meu, e que por isso só eu poderia saber e sentir o que de fato poderia haver ali, para mim, em particular. Não, nunca é tarde para se aventurar a viver a coragem de desvendar a si mesmo.

A frase “Decifra-me ou devoro-te” nos remete ao mito do enigma da esfinge que devora a tantos em seu tempo e que fez Édipo ser condenado por realizar seu destino desconhecido e proibido. Édipo não se precipitou ao enigma, mas nunca soube que ao aceitá-lo apenas cumpria seu inexorável destino.

Se não mergulharmos com profundidade na nossa própria história, estaremos  sempre submetidos e propensos a sermos devorados pelas esfinges da vida. E o poder de decifrar o enigma está em nossas mãos, se nos permitirmos decifrar a esfinge.


Poema:

Rainha dos santos campos verdejantes

Formosura do esplendor

Teus cabelos encaracolados

Dançantes como as ondas do mar

Entorpecem o meu amor

O teu reino encantado

Se encontra nas estrelas cintilantes

Onde a tríade do espírito formatou o teu semblante

Teu castelo é a morada mais brilhante 

Feito com cristais encantados e o pó de diamante

Um dia nos encontraremos, no horizonte do infinito

Às horas da aurora, com o hino mais bonito

Até lá, minha rainha, os anjos guiarão o teu caminho

Iluminando a caminhada, com os mais sábios pergaminhos

E para não te perderes nesta jornada, te deixarei esta canção

Segredo de um mapa escondido no fundo do coração.

Reginae patris (rainha do pai)

- Carla Regina Campos (Rio de Janeiro/RJ)

Antologia 2022 Poesia Ativa pág. 37

Editora Absurtos


quarta-feira, 25 de maio de 2022

Quem ou o quê é o Psicanalista

 O psicanalista é um terapeuta que ajuda uma pessoa a viver melhor graças a um tratamento psicanalítico. Inventada por Sigmund Freud, essa técnica permite que o paciente explore seu inconsciente para tentar resolver os conflitos que remontam à sua infância e pesam em sua existência.


Em que consiste este trabalho?


“Não entendo por que me comporto assim há anos”, "sempre repito os mesmos padrões"...


 Confortavelmente deitado em um sofá, ou na sessão on line, o paciente revela suas ansiedades. Após uma escuta atenta, o psicanalista tenta curar certos transtornos de personalidade ou de comportamento com base em teorias que explicam o funcionamento psíquico. Ele emite interpretações, faz perguntas sobre a infância, sonhos ou problemas encontrados. Objetivo: ajudar o paciente a tomar consciência de seus bloqueios e superá-los. 


A capacidade de ouvir do psicanalista e a confiança que ele inspira desempenham um papel importante no processo de cura. 


Antes de começar ou durante o seu percurso, o psicanalista deve seguir com seu próprio tratamento analítico com um analista, e ao começar a atender seus pacientes, encaminhar seus casos à supervisão com analista experiente, e seguir com o estudo contínuo da teoria. Assim poderá oferecer um bom tratamento àqueles que o procuram e carecem de ajuda.


Carla Regina Campos 

Psicanalista

Atendimentos Online:(21) 96462-3590 whatssap

terça-feira, 17 de maio de 2022

O Normal e o Patológico

 

Quando falamos

em normalidade, quais são as imagens e as idéias que o seu cérebro projeta?

Em que você pensa?

Existe um senso comum sobre a normalidade como algo estático, modelo a ser

seguido, uma espécie de perfeição essencial.

Será que é mesmo possível estabelecer um critério fixo de normalidade, que não

se transmuta ao longo do tempo e de acordo com a circunstância?

“Estamos mais preocupados em compreender a normalidade, em fixar o

seu conceito, do que propriamente em defini-la. Em sua essência complexa,

o problema seria prejudicado por uma definição que procurasse fixá-lo em

palavras, desde que se trata, na realidade, de um conceito essencialmente

dinâmico. Nessas condições, a definição não auxiliaria em nada a

compreensão do assunto. O que importa, sobretudo, é o conhecimento

dos fatores a tomar em consideração quando falamos em normalidade,

pois deles depende a limitação do conceito e a base de qualquer tentativa

definidora” (DOYLE, 1950).


Definição do dicionário Michaelis para ‘normal e patológico’:

normal. nor·mal adj m+f 1 Conforme a norma; regular: O juiz aplicou a sanção normal ao

caso. 2 Que é comum e que está presente na maioria dos casos; habitual, natural, usual:

“[…] essa dor que eu estou sentindo no braço não pode ser normal”(NR). 3 Tudo que é

permitido e aceito socialmente: Divorciar-se é prática bastante normal hoje em dia.

Patológico pa·to·ló·gi·co adj 1 MED Relativo à patologia. 2 Que denota doença; doentio,

mórbido. ETIMOLOGIA der de patologia+ico2, como fr pathologique.


O que é importante deixar claro é a relatividade da normalidade, que representa

realidades distintas e contingenciais, que fazem com que a sua representação seja

diferente em casos distintos, de acordo com a perspectiva pela qual enxergamos.

A normalidade e a patologia, portanto, não são universais. Quando falamos da

Humanidade, existem diferentes aspectos que podem ser encarados para pensá-las,

sejam eles orgânicos, fisiológicos, psicológicos. Os três possuem relação entre si,

embora cada um tenha suas particularidades e diferentes critérios para definição

de normalidade.


No caso da Psicanálise, por exemplo, a noção de normalidade não é uma

ferramenta. Com os estudos de Freud acerca da neurose, percebida por ele com

muita frequência nas pessoas, a noção de normalidade psicológica assumiu posição

muito delicada, na medida em que diferentes distúrbios ou comportamentos gerados

em uma realidade tão contraditória e com problemas sociais tão profundos.

Todo patológico é anormal, mas o inverso não é sempre verdadeiro. O anormal

pode ter caráter adaptativo, não correspondendo necessariamente a sofrimento e

impotência (pathos). Por isso, é importante o cuidado no trato com esses conceitos

de normalidade, anormalidade e patologia, termos de profunda complexidade.

Para Augusto Comte, pai do pensamento positivista, o excesso é constitutivo

da doença, ou a falta de vivacidade do corpo. A ausência de estímulo, necessário à

saúde, conduziria ao estado de doença.


Há ainda outros autores que consideram outros aspectos e apresentam outras

explicações, como Claude Bernard e Leriche.


Todo patológico é anormal, mas o inverso não é sempre verdadeiro. O anormal

pode ter caráter adaptativo, não correspondendo necessariamente a sofrimento e

impotência (pathos). Por isso, é importante o cuidado no trato com esses conceitos

de normalidade, anormalidade e patologia, termos de profunda complexidade.


Uma abordagem curiosa, por exemplo, é frequente entre pensadores e literatos

do início da Modernidade, que relacionavam a normalidade à futilidade, à falta de

profundidade do ser, a ser supérfluo e não contraditório. Diferente dos pensadores

da Filosofia Clássica, eles não almejavam a normalidade, mas fugiam dela.


“[...] o homem normal está personificado pelo homem da massa, “o que

nos rodeia aos milhares, o que prospera e se reproduz no silêncio e na

treva”; é o homem sem ideias, sem personalidade, por essência imitativo,

apto a viver como carneiro de rebanho, refletindo a rotina social, aceitando

os preconceitos e dogmas úteis à sua condição doméstica; a alma desse

homem medíocre não tem nada de espontaneidade, é um reflexo da alma

da sociedade em que vive, porque a característica deste homem é imitar a

quantos o rodeiam, pensar com a cabeça alheia, e ser incapaz de formar

concepções e ideais próprios; deste modo, ele é o espírito conservador

do grupo, interessado em manter os seus hábitos, que lhe amenizam o

esforço de viver” (DOYLE, 1950).


Tanto a idealização da normalidade quanto o seu desprezo, portanto, não correspondem

a uma visão equilibrada do que a questão trata. É muito difícil, hoje,

sustentar uma ideia estática de saúde e doença.

Vamos pensar a respeito?


Um dos aspectos a ser considerado para o estabelecimento do normal é a

pressão cultural, visto que as culturas estabelecem seus modelos de normalidade e

anormalidade, questão que tirar o normal como a média não leva em consideração.

Se tirássemos pela média, aqueles que se destacassem do ponto de vista da

adequação social ou do acordo com as regras, mesmo em relação à sua capacidade

intelectual, seriam considerados deslocados e anormais (AJURIAGUERRA;

MARCELLI, 1986).


“O normal, como o ideal pressupõe, primeiramente, é um determinado

sistema de valores. Cabe questionar, primeiramente, como seria escolhido

um sistema de valores padrão para o estabelecimento da normalidade”. (AJURIAGUERRA; MARCELLI, 1986 apud DELATORRE et al.).


A apreensão dinâmica do que seja normalidade e patologia está

associada à capacidade de retomar o equilíbrio do estado de normalidade, o que

requer um processo de se adaptar à determinada condição. Essa adaptação pode ou

não gerar conformismo e submissão, gerando outros problemas (AJURIAGUERRA;

MARCELLI, 1986).


Winnicott (1967) analisa a tendência dos psicanalistas no entendimento da

normalidade que, segundo o autor, caminha no sentido de pensar a saúde como

ausência de distúrbios psiconeuróticos. O autor, no entanto, defende a adoção de critérios mais sutis, considerando a

normalidade em termos de liberdade no âmbito da personalidade, da capacidade

de possuir confiança, constância, liberdade em relação à autoilusão, estando relacionada

à saúde, à autonomia e ao livramento em relação à dependência. A vida

saudável seria caracterizada, ainda, por momentos e sentimentos positivos e negativos,

conquistas e frustrações (WINNICOTT, 1967 apud DELATORRE et al.).

 

Para Freud, no entanto, a ênfase é dada ao desenvolvimento psíquico sobre a

classificação das doenças. O trunfo do Pai da Psicanálise, portanto, é que os mecanismos da normalidade e da neurose são os mesmos, sendo diferente o seu uso e a sua flexibilidade, não havendo continuidade entre eles (BERGERET, 1996).

 

Foucault vai enxergar a doença não apenas

por seu viés negativo, mas pela positividade subjacente, na possibilidade gerada

pelo patológico, na medida em que o normal e o patológico se complementam, e

não são antagônicos.

“Isto é, retornando às fases anteriores da evolução, a doença faz

desaparecer as aquisições recentes e redescobre as formas de conduta

ultrapassadas. A doença apresenta-se não como um ‘retrocesso’, mas

como um processo ao longo do qual se desfazem as estruturas evolutivas.

Nas formas mais benignas, há dissolução das estruturas recentes e, no

término da doença ou no seu ponto extremo de gravidade, das estruturas

mais arcaicas. 

Para Foucault, portanto, a doença não é um déficit que

atinge radicalmente esta ou aquela faculdade; há, no absurdo do mórbido,

uma lógica que é preciso ‘desentranhar’, pois ela é, em última instância,

a própria lógica da evolução normal. Ele visualiza o patológico ou a

doença não como uma essência contra a natureza da ‘normalidade’, mas

sendo a própria natureza dessa normalidade, num processo invertido, o

qual se firma numa sociedade que não se reconhece como seu artífice”

(WANDERLEY, 1999).

 

A normalidade ultrapassa a ideia de frequência, na medida em que a normatização

“só é a possibilidade de uma referência quando foi instituída ou escolhida

como expressão de uma preferência e como instrumento de uma vontade de

substituir um estado de coisas insatisfatório por um estado de coisas satisfatórias”

(CANGUILHEM, 1982).

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quarta-feira, 20 de abril de 2022

Podemos ser vítimas do nosso meio, mas não precisamos ser reféns das circunstâncias

 Um estudo da conceituada Revista Molecular Psychiatry sugeriu, levando em consideração os mais recentes estudos na área da epigenética e neurociência, que o menor nível socioeconômico pode contribuir para a função cerebral alterada e risco futuro de depressão.

Essa é uma notícia que pode ser de grande contribuição para a ciência pensar em novos métodos de tratamento e cuidados.

No entanto, se o nível socioeconômico pode ser propulsor para uma futura causa de depressão e outros quadros psicopatológicos, isso não significa que o sujeito precisa ser refém de suas circunstâncias. Contrariando a toda sorte de adversidades sociais, econômicas e morais, ainda assim é possível fazer escolhas melhores e ser mais dono da própria vida e menos refém das circunstâncias.

Esse estudo vai em direção ao pensamento de Jean-Jaques Rousseau, filósofo iluminista suíço que disse: A natureza humana é boa. Logo, é o meio em que o homem está inserido que definiria quais as suas possibilidades. Ou seja, ele seria o produto do meio. Seria a sociedade então que o corromperia.

Já para Freud, o homem é resultado de suas experiências infantis com a junção do Id e do controle das decisões feitas pelo superego, na medida em que o caráter infantil iria moldando a formação da personalidade na idade adulta.

As neuroses seriam então, o resultado do recalcamento criado por poderosas forças contrárias emocionais.

Sendo de natureza biológica, socioeconômica ou das experiências infantis, fato é que é possível escolher não se manter eternamente vítima das circunstâncias. E uma análise pode ajudar o sujeito a se responsabilizar por seus desejos e sua vida.

domingo, 2 de janeiro de 2022

Um psicanalista na consulta só escutará o paciente ou conversará e dará alguma ajuda, como por exemplo, um direcionamento para as situações?

 

O psicanalista tem condição de ajudar a entender o que se passa com você a nível inconsciente através de perguntas, intervenções e interpretações em uma relação muito especial que se estabelece que é a relação transferencial.

O trabalho psicanalítico dispõe de duas regras, que são fundamentais para um bom andamento da análise. Uma é a associação livre do analisante. Isso significa que, quem traz os conteúdos a serem trabalhados é o analisante. E isso é possível através da sua fala, dos conteúdos importantes para você. E, por parte do analista é uma atenção "flutuante" que possibilita o analista não se colocar numa posição de "interpretação" e sim valorizar o que significa o que você está falando. Pode o analista falar pouco ou muito, mas o trabalho realizado vai depender do seu desejo de análise. Desejo de trabalhar o que lhe traz angústia abrindo possibilidade de retificar e mudar sua posição subjetiva. Quem irá construir um bom percurso ou um mal percurso de análise será você e seu desejo.

Há várias vertentes dentro da psicanálise. Os psicanalistas mais ortodoxos falam muito pouco com o intuito de não "contaminar" as questões do paciente com as suas. Dito de outro modo, a psicanálise entende que a sessão não deve ser um encontro entre duas pessoas (dois mundos internos) mas um espaço em que o mundo interno do paciente (analisante) apenas possa aparecer, por isso a pessoa do analista não se revela. O psicanalista tem como tarefa devolver ao sujeito aquilo que ele diz e que não percebe que diz. Esse trabalho visa ajudar o analisante a perceber de qual posição ele se enuncia: por exemplo, é uma pessoa insatisfeita que acha que os outros são os culpados de todas suas mazelas? é alguém que se sente na obrigação de cuidar dos outros? Particularmente, penso que o silêncio desde o início do processo pode ser muito angustiante para o paciente, mas isso não significa que o analista dará conselhos. A responsabilidade das escolhas é do analisante e o analista deve frisar isso.

Na Psicanálise, ao contrário do que muitos pensam e alguns divulgam, existe sim acolhimento da dor do outro e interação e empatia. Mas o Psicanalista não dá sugestões de como você deve proceder, porque ninguém é o dono da sua verdade, a não ser você, embora muitas vezes você precise falar para chegar até essa verdade. E ninguém, além de você, suportará o sofrimento das decisões tomadas de acordo com base nas sugestões de quem se acha aquele que tudo sabe. A Psicanálise te ajudará a descobrir quais são os teus desejos e quais são os conflitos que te trazem sofrimento, possibilitando que você possa se tornar uma pessoa mais livre, responsável por sua própria vida e por suas decisões e mais preparada para enfrentar as contingências da vida.

O psicanalista dará a direção ao tratamento não irá direcionar você. O trabalho pela abordagem psicanalítica é em direção a uma autonomia e responsabilidade sobre a própria vida. É fundamental que para isso você se sinta confortável para falar, sinta confiança no profissional e saiba que ele está ali atento ao material que você traz, fazendo as intervenções nos momentos que ele achar pertinente, pontuando, interpretando e te auxiliando na sua trajetória analítica.

Existem formas diferentes dos psicanalistas trabalharem, mas pode-se afirmar que poucos trabalham hoje em dia apenas escutando o paciente. A escuta é o principal instrumento de trabalho, mas não é o único. Frequentemente são necessários apontamentos, perguntas, esclarecimento, interpretações, entre outras formas de intervenção, todas no sentido de ajudar a pessoa a pensar aquilo que por algum motivo ela está se impedindo de pensar a respeito de si e de suas relações. Contudo, tal trabalho não pode ser entendido como um direcionamento. O tratamento psicanalítico busca aumentar o seu conhecimento sobre si para que assim você possa decidir qual direção tomar de maneira mais consciente e comprometida com o que você realmente é.

 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Quando devo procurar um Psicanalista?

 


Para que o trabalho de um psicanalista funcione é importante que a pessoa realmente queira ser ajudada.

Na prática, isso significa que o trabalho com um analista só terá efeito se a parte saudável do paciente fizer uma aliança positiva com o profissional. Este vínculo do paciente com o analista em direção à cura se chama aliança terapêutica.

Esta observação parece redundante, mas não é! Vou explicar porquê.

Indivíduo = sujeito não dividido

No senso-comum, costuma-se pensar que o fato de uma pessoa buscar a ajuda de um psicanalista significa por si só que esta pessoa deseja ser ajudada. Esta premissa está assentada na lógica de que nós somos lineares.

Mas Freud descobriu que o ser humano não é linear, ou seja, não é um indivíduo no sentido psicológico do termo, que significa sujeito não dividido. Ele descobriu que nós estamos constantemente divididos entre desejos opostos e conflitantes entre si. Na situação discutida aqui, isso significa que há no paciente um enorme conflito entre o desejo de melhorar e o desejo de permanecer doente.

Isso ocorre porque nós somos dotados de dois instintos básicos, amor e ódio, que estão presentes em todas as realizações humanas.

Quando o paciente chega ao consultório:

Quando um paciente consegue fazer o primeiro contato com o psicanalista, às vezes depois de meses ou anos de ensaio, há ali um sinal de esperança: significa que, pelo menos naquele instante, o amor venceu o ódio; o desejo de melhorar venceu o desejo de permanecer doente.

Por isso este movimento de vida deve ser valorizado e comemorado como o primeiro passo rumo à transformação.

E o que vai acontecer depois?

Depois que o paciente consegue dar este primeiro passo, não é possível prever de antemão o quanto as forças de vida conseguirão se sobrepor às forças de morte. Aliás, este é um dos grandes trabalhos a ser realizado em uma psicanálise: fortalecer a capacidade de amar do paciente.

Se as forças de vida preponderam, o paciente consegue continuar vindo para as sessões e paulatinamente vai aprendendo a reconhecer e a conter seus sabotadores internos. Se as forças de morte preponderam, o paciente rompe o trabalho de análise por não conseguir sustentar seu investimento amoroso na vida e em si mesmo.

Vale ressaltar que a capacidade de amar é, em grande parte, inata. O que significa que o psicanalista pode muito pouco quando as forças de morte imperam no psiquismo do sujeito. O que eu quero dizer é a psicanálise não modifica a natureza instintual do paciente. O que ela faz é fortalecer a capacidade de amar do sujeito que muitas vezes permaneceu imobilizada pelo excesso de pulsão de morte e /ou pelo excesso de traumatismos.

Algumas dicas:

1.     Percebe que está sempre se envolvendo com o mesmo tipo de parceiro amoroso ou quando está prestes a ter um sucesso, você faz algo para estragá-lo;


2.     É tipo melancólico que não se adapta ao ideal de felicidade que é vendido hoje em dia. Sente-se deslocado, está sempre repleto de indagações filosóficas sobre a vida e sobre a morte e não encontra companhia para pensar sobre suas angústias;


3.    Sente-se impelido a se envolver em ações destrutivas (com sexo, drogas e bebidas) como se estivesse possuído por um outro “eu”;


4.     Encontra muita dificuldade para se separar das pessoas e dos objetos que “ama”. Tem absoluto pânico de ficar sozinho;


     Quando vê-se forçado a ficar só é invadido por um terrível e desolador sentimento de vazio e tédio;


     Não consegue sentir prazer na vida, no trabalho e nas relações em geral;


     Envolve-se com frequência em intrigas e brigas: no trabalho, no trânsito, na família e com os amigos. Sente que as pessoas estão conspirando contra você o tempo todo.

Se você se identificou com uma destas situações listadas acima, você pode se beneficiar muito do trabalho de um psicanalista

 


Édipo Rei: Culpa Piedade ou Destino?



 Édipo é o atual rei de Tebas, tendo resolvido o enigma da Esfinge e salvo a cidade da destruição. Porém durante seu reinado surge uma praga em seus domínios, que afeta a fertilidade de terra, dos animais e das mulheres da região. Na tentativa de salvar novamente a cidade o rei busca o auxílio dos oráculos, esses sugerem que a origem da praga é o assassino do velho rei Laio, que ainda vive impune. Édipo decide investigar o assassinato, quanto mais próximo chega da verdade mais ele transita para a posição de de culpado e vítima da situação. A investigação leva-o descobrir que ELE é assassino de Laio, descobre também que ele era na verdade seu pai, e Jocasta, sua rainha, é a sua mãe. E tendo matado o pai e casado com sua mãe, cumpriu uma profecia que mais cedo havia sido proferida. De qualquer forma, Jocasta, sua rainha se enforca e Édipo fura a seus próprios olhos com suas jóias, em seguida, vai para o exílio.

Curiosidades:

  • A tragédia surgiu na Grécia Antiga, suas origens giram em torno dos rituais em celebração ao deus Dionísio. As apresentações de peças teatrais trágicas eram a principal manifestação das festas dionisíacas, já que essas apresentam em sua composição alguns do elementos que caracterizam o deus. Dionísio simboliza a transformação da ordem em caos, o e tudo que escapa da razão humana e que pode ser atribuída à ação dos deuses.
  • Édipo Rei, escrita por Sófocles, dramaturgo grego e um dos mais importantes escritores de tragédia, por volta de 427 a.C, foi aclamada por Aristóteles, na sua Poética, onde ele considerou a obra o mais perfeito exemplo dos princípios da tragédia grega, essa sendo definida no texto como “ a imitação de uma ação séria e concluída em si mesma… que, mediante uma série de casos que suscitam piedade e terror, tem por efeito aliviar e purificar a alma de tais paixões.” Ou seja, a tragédia também é destinada a evocar tanto piedade e medo.

O grande brilho de Édipo Rei, está no final da peça — ao furar os olhos Édipo, desperta em nós o sentimento de pena mas também o de medo. E essa é a parte complicada, Aristóteles também escreveu que a tragédia deve afligir uma personagem principalmente boa que comete um grande erro, ela não pode ser sobre uma personagem ruim, porque então você não sente qualquer piedade. E não pode ser sobre um caráter perfeito que faz tudo direito e ainda sofre um fim trágico.

Então, no início da peça, Édipo parece ser definitivamente um ótimo rei, por exemplo, o sacerdote chama de “Édipo, grande senhor nosso rei” e ao contar a ele sobre o sofrimento na cidade, Édipo responde que já está ciente “sofro ao mesmo tempo pelo país, por vós e por mim’’ mostrando que está preocupado com o que está acontecendo ao seu povo, e na verdade, ele já havia despachado seu cunhado, Creonte, para visitar um oráculo e descobrir a origem da peste e também Édipo já salvou a cidade uma vez por responder o enigma da Esfinge tinha o corpo de uma mulher, as asas de uma águia. Todos esses elementos constroem ao rei um belíssimo carácter. Porém, Édipo apresenta defeitos, como por exemplo, acusa Creonte de conspirar contra ele. Ele também tem algumas palavras duras para o vidente cego, Tirésias, e ameaça o homem com tortura. Há uma série de ambiguidades em seus atos, mas esses são pequenos erros, em vez de grandes.

Então seria o seu destino resultado de suas falhas? O erro de Édipo matar Laio na encruzilhada? Sófocles faz com que seja bastante claro que Laio tenha dirigido a Édipo com agressividade e ele assim tendo permissão para reagir em legítima defesa. Foi dormir com Jocasta? Mas novamente, não é realmente uma escolha. Ela foi apresentada a ele, juntamente com o reino, quando ele derrotou a Esfinge.

Assim construindo uma personagem que era um grande homem e é arruinado por um grande erro. Os erros de Édipo não são totalmente sua culpa, mas sim são impostos por seu destino. Este é o grande elemento de excelência da tragédia da obra de Sófocles, os atos do rei nos provocam sentimentos múltiplos.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

A cura, na Psicanálise, se dá de fato na relação com o Analista



Imagina-se que ao fazer análise o paciente simplesmente melhore porque conseguiu substituir seus problemas emocionais pela elaboração psíquica dos conteúdos que estavam por trás deles.

Porém, o principal fator de cura no tratamento psicanalítico é a RELAÇÃO do paciente com o analista.

Como assim?

Vejamos: O que ocasiona o adoecimento emocional do ponto de vista psicanalítico?

A resposta é: um processo de dissociação da personalidade, certo?

Em outras palavras, entendemos que o sujeito adoece para se proteger de determinadas partes de si mesmo que ele tem medo de integrar em sua personalidade.

Se é assim, qual deve ser o objetivo do tratamento?

Ajudar a pessoa a perder esse medo!

O trabalho de decifração dos sintomas e inibições do paciente só pode acontecer se ele for se sentindo suficientemente seguro para explorar o avesso de si.

E ele só conseguirá desenvolver essa segurança no interior de uma RELAÇÃO com uma pessoa confiável, empática, não invasiva e, sobretudo, que não o condena.

A análise não cura por causa daquilo que o paciente redescobre sobre si durante a terapia ou em função de interpretações certeiras do analista.

Isso tudo é importante, mas é secundário.

O fator terapêutico primordial é a reconquista, pelo paciente, da capacidade de olhar para si mesmo e se escutar sem medo.

E isso só pode ser alcançado por meio de uma RELAÇÃO de confiança com o analista.

Corroborando essas ideias, Freud diz o seguinte na conferência “Transferência”, de 1917 (volume XVI das Obras Completas):

“A fim de que o paciente enfrente a luta do conflito normal com as resistências que lhe mostramos na análise, ele tem necessidade de um poderoso estímulo que influenciará sua decisão no sentido que desejamos, levando à recuperação. […] "

A cura, na Psicanálise, se dá de fato na relação com o Analista

Imagina-se que ao fazer análise o paciente simplesmente melhore porque conseguiu substituir seus problemas emocionais pela elaboração psíqui...